Autor Victor Hugo Cardoso - 10/03/2015
TÍTULO PLANTAS MEDICINAIS NA ODONTOLOGIA - PARTE II

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Nesta segunda parte vamos conhecer as plantas que apresentam aplicabilidade no âmbito da Odontologia.

ROMANZEIRA (Punica granatum)

As propriedades antimicrobianas são atribuídas aos taninos, substâncias concentradas principalmente na casca do caule e do fruto. É dotada ainda de poderes anti-inflamatórios e antibacterianos, além de conter substâncias capazes de estancar hemorragias. O suco é usado contra úlceras na boca. Já as flores entram em ação no tratamento das gengivas, prevenindo a perda dentária. Em experimentos, o extrato da casca de romã mostrou-se tão eficaz no combate à placa bacteriana quanto a clorexidina, composto muito usado em antissépticos bucais e assepsias pré-cirúrgicas.

MALVA (Malva sylvestris)

Possui propriedades anti-inflamatórias, antibacterianas, antimicrobianas, antifúngicas e cicatrizantes. A infusão ou tintura das folhas secas, flores e raízes ajuda a tratar gengivites e dor de dente. “Pode ser utilizada sob a forma de bochecho para inflamações na boca, mas em doses excessivas pode ter efeito laxativo”, alerta a dentista Beatriz de Bittencourt Grotzner.

JUÁ (Zizyphys joazeiro)

Tem ação antimicrobiana e antisséptica. Seu pó pode ser usado como creme dental, pois desestabiliza o biofilme (a placa bacteriana), ajudando em sua remoção.

AROEIRA (Schinus terenithiofolius)

Possui ação antimicrobiana, anti-inflamatória e antiulcerogênica, sendo utilizada como antisséptico e no tratamento de estomatites. Além disso, apresenta atividade bactericida e antifúngica. Sua tintura pode ser usada para esterilizar escovas dentais contaminadas com a bactéria Streptococcus mutans, a principal causadora da cárie.

CAJUEIRO ROXO (Anacardium occidentale)

Essa árvore tipicamente nordestina é rica em taninos, que lhe conferem poderes anti-inflamatórios e anti-hemorrágicos. Tem ação antisséptica, antifúngica e antiviral. O chá da casca da árvore combate feridas, estomatites, aftas, cáries e queimaduras bucais. O óleo é indicado para dor de dente.

HORTELÃ (Mentha spicata)

A ação antimicrobiana dessa erva acaba de ser comprovada pela cirurgiã dentista Iza Teixeira Alves Peixoto, em sua tese de doutorado na Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Ela descobriu que o óleo essencial da hortelã combate o fungo causador do “sapinho”. E o melhor é que a Mentha não afetou o metabolismo das células epiteliais, agindo apenas no fungo. O estudo é importante porque várias pesquisas já demonstraram que a eficácia dos agentes antifúngicos usados atualmente, como o fluconazol, vem diminuindo devido à resistência microbiana.

 

AÇAÍ: DA TIGELA PARA O DENTISTA

Gostoso e energético, o açaí (Euterpe oleracea) agora virou “evidenciador de placa bacteriana” – aquele corante que aponta a aglomeração de bactérias no esmalte dos dentes. A dentista Danielle Emmi, da Universidade Federal do Pará (UFPA), foi quem teve o insight para desenvolver o corante natural, ao observar que a fruta deixa a boca e os dentes coloridos de vermelho. Obra da antocianina, a mesma substância que dá cor às uvas rubras. Ao testar um concentrado do corante de açaí, a pesquisadora confirmou a suspeita e ainda teve uma boa surpresa. “O açaí consegue detectar as áreas comprometidas já a partir do momento em que o biofilme começa a se formar, algo que os corantes hoje disponíveis no mercado não fazem”, diz Danielle. “A eficácia do corante natural chegou a ser 90% superior à dos corantes sintéticos em uso hoje.”

O concentrado, que está patenteado, foi desenvolvido para consultórios, mas, segundo Danielle, nada impede que ele entre na composição de produtos acessíveis à população. “É possível desenvolver produtos baratos, como enxaguantes e pastas de dentes.” Aí, bastará um bochecho na frente do espelho para flagar a placa. Danielle segue apostando na biodiversidade da Amazônia e agora investiga outras espécies, como a castanha-do-pará, o bacuri, a pupunha e o tucumã. “Eles podem ter efeito protetor contra as cáries”, desconfia. Já o uxi tem ação anti-inflamatória e potencial para inibir o crescimento das bactérias formadoras da placa.

O PODER DA COPAÍBA

Nativa da Amazônia, a copaíba (Copaifera langsdorffii) já ganhou fama por sua ação antibacteriana e analgésica. Agora, o óleo dessa árvore faz parte da composição de um cimento odontológico desenvolvido na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e usado para preencher o canal radicular – o espaço dentro do dente onde fica a polpa.

Quem já fez tratamento de canal sabe: é preciso tirar a polpa, limpar e preencher o espaço vazio com uma massa. “Hoje, não existe um produto que cumpra esse papel dentro dos padrões físicos e biológicos ideais”, diz a professora Angela Garrido, que desenvolveu o novo cimento. “O produto ideal não pode escoar ou se retrair, deve preencher o canal sem falhas para não entrar umidade e ainda possuir atividade antimicrobiana, pois fica em contato com as células do paciente”, esclarece. “O cimento à base do óleo de copaíba cumpre tudo isso e ainda custará cinco vezes menos do que os produtos tradicionais.”

Outra vantagem: o óleo natural não irrita os tecidos e não causa inflamações, um efeito colateral comum dos cimentos já utilizados. O produto foi patenteado e aguarda liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para chegar ao mercado.

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